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Pedra do Porto

História e Património do Concelho da Nazaré

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Novos Elementos sobre o Forte de São Miguel Arcanjo

Carlos Fidalgo, 25.09.22

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É do conhecimento público que o Forte de São Miguel Arcanjo terá sido mandado construir por D. Sebastião, assim como é do conhecimento geral que este tipo de fortes terão sido construídos por vários motivos, sendo que a teoria mais provável possa estar relacionada com a colmatação dos mares interiores (lagoa da Pederneira e Alfeizerão) e com a necessidade de defender a costa, agora a primeira defesa marítima do litoral português, dos navios que navegavam nas águas do atlântico com objetivo de assaltar as embarcações que andavam nas rotas comerciais.

Tinha passado cerca de um século da descoberta da Índia, poucas décadas após a descoberta do Brasil e a costa portuguesa era, ao que parece, um entreposto comercial de relevante importância.

Nada mais natural que a construção de fortalezas junto ao oceano fosse uma primazia para a política defensiva do Reino. Assim deve ter pensado D. Sebastião ao decidir mandar construir o Forte de São Miguel Arcanjo, mas também  outros que ainda existem no litoral português.

Antes de D. Sebastião, e para a região Oeste, note-se o Castelo de Leiria, o de Alcobaça, o Castelo de D. Framundo, o de Alfeizerão, bem como o de Óbidos, castelos roqueiros edificados no período da reconquista cristã - ou até antes - porque era necessário proteger o reino das investidas oriundas de leste e sul.

Agora o problema vinha de Oeste e não de terras de Espanha e por isso o Forte de São Miguel Arcanjo faz parte de uma outra fase da História Militar de Portugal, já analisada por eméritos estudiosos e que não cabe neste espaço explanar aprofundadamente.

Por isso, e sem prejuízo de uma leitura mais aprofundada sobre os sistemas defensivos no território que hoje conhecemos como Portugal, apresenta-se abaixo o que nos parece ter interesse para a história do Forte de São Miguel Arcanjo.

Refere-se o que se segue:[1]

*

Para maior segurança dos portos de mar, ordenou El-Rei D. Sebastião no Regimento da Milicia do Reino, que nos lugares mais cómodos, e onde melhor se descobrisse o mar, houvesse perpétuas vigias, as quais elegem com os oficiais da Câmara os Capitães-mores de cada lugar em número bastante para vigiarem dois de dia e três de noite, começando um pela manhã, e entrando outro ao meio dia, e que vendo velas ao mar, fizessem sinal de fumos, se estivessem longe, e com fachos, se estivessem perto, dando tantos fumos a os fachos, quantos fossem os navios, e os três, que vigiassem de noite, se repartissem a os quartos, e que vendo navios ao mar, se desse aviso deles ao Capitão-mor, e saindo gente em terra, dessem sinal com arcabuzes, para que se acudisse com presteza ao rebate.

Nas torres, e atalaias o facho é um pau alto com outro em cima atravessado, em cuja ponta está uma cadea de ferro, e no fim dela, uma caldeirinha vasada, onde se põe o fogo, quando parece inimigo, de noite, ou de dia por tempo dos seis meses, que correm, de Maio até ao fim de Outubro.

Facho. O feixe de tojo, ou de rama de pinheiro, que se acende em sinal de rebate.[2]

*

Parece-nos que o método de defesa aposto neste texto segue os sistemas defensivos (Torres e Fachos) existentes em tempos anteriores e mencionados em documentação anterior a este período temporal. Estamos a referir-nos às torres e fachos que deveriam existir nessas reentrâncias marítimas, em particular na Lagoa da Pederneira e na de Alfeizerão e que Borges Garcia fez nota em artigo da segunda metade do século passado.

Por fim, dizer que este documento contém informação para uma abordagem mais aprofundada, pelo que deixamos o desafio aos investigadores mais novos que se queiram dedicar à investigação do Concelho da Nazaré. Trabalho não falta.

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[1] Atualizámos o grafismo, mantendo a pontuação original.

[2] BLUTEAU, D. Raphael. Vocabulário Portuguez e Latino […], Offerecido a El-REY de Portugal, D. Joao V, Coimbra, no Real Collegio das Artes de Coimbra de Jesu, Anno Domini M.DCC.XIII, f. 9.

Foto: Carlos Fidalgo