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Pedra do Porto

História e Património do Concelho da Nazaré

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Memórias Paroquiais da Freguesia de Azinhaga (1758)

Carlos Fidalgo, 19.11.17

Memórias Paroquiais da Freguesia de Azinhaga (1758)[1]

 

A Paróquia de N. S. da Ponte de Almonda do lugar de Azinhaga está situada na Província da Estremadura neste Patriarcado, e no termo, e Comarca de Santarém e é de Sua Majestade [D. José I].

Tem trezentos e três vizinhos e oitocentas e cinco pessoas de confissão.

Está situada em campina, dela se descobre somente a Vila da Chamusca, distante desta uma légua para a parte do Norte.

A Paróquia está no meio deste lugar junto às margens do rio Almonda, é um dos maiores Templos deste Reino; tem duas naves com cinco formosíssimos arcos e um grande coro; tem cinco capelas; em que venera a Imagem de N. Sr.ª da Conceição, Orago desta freguesia e S. João Batista, com excelente tribuna por [?].

Descendo do Altar-mor está da parte da mão esquerda no mesmo plano a Sacristia, e da parte da mão direita está outra nobre Sacristia da Irmandade do Santíssimo, e dentro das cancelas que são de pau e ferro, da mesma parte direita está a Capela do Senhor Jesus em que se venera uma imagem de Cristo Crucificado, muito admirável [999].

E em correspondência da parte da mão esquerda está outra de N. S. da Encarnação, de qual é hoje administrador o Desembargador António Manuel Nogueira por cabeça de sua mulher[2], filha do Morgado José Correia Serrão, que é a mais nobre família desta terra, tão mal ornada que por este motivo se não celebra nela, tendo obrigação de missa quotidiana.

Fora das cancelas da parte da mão direita está a Capela das Almas altar privilegiado nas segundas-feiras, e de fronte o de N. S. do Rosário com Confrarias de pouco rendimento, mas ornadas quanto é possível.

O Pároco é chamado Prior, Igreja de concurso ordinário, e Comenda de que é Comendador o Marquês de Marialva, tem de ordinária quarenta mil reis, e dez para casas, tem estil[?] e meio de terra no Campo da pereira, território desta terra com obrigação de um aniversário cantado por deixa de António Carvalho, um Olival as Rodeas com obrigação de dez mi [1000] ssas, e um Olival pequeno com um pequeno pomar, no meio do que está a ermida de N. S. da Piedade da qual logo direi, que todo o rendimento das propriedades acima ditas com o que de […] poderão renda à dita Igreja cento, e quarenta até cento, e cinquenta mil reis.

Tem Cura, que cobra de ordinária um moio de trigo, uma pipa de vinho e quatro mil reis.

Tem tesoureiro, que tem de ordinária um moio de trigo, dezassete almudes de vinho, e dois mil reis, ambas as ditas ocupações da apresentação do Prior.

Tem casa da Misericórdia que foi erecta aonde algum dia foi hospital, e terá de rendimento cento e vinte mil reis, que mal chegam para as obrigações, que tem.

Tem uma ermida do Divino Espírito Santo, outra de S. Sebastião, ambas do povo, outra de S. José, de que é administrador o dito Desembargador, com obrigação de missa quotidiana na dita Capela, a que se não satisfaz. [1001]

E fora deste lugar para a parte do norte tem outra de S. João, que é do Morgado de Oliveira, com a mesma obrigação acima de missa quotidiana, a que se satisfaz.

Tem outra que é de Jerónimo Leite Pacheco Medeiros com a mesma obrigação a que satisfaz com toda a pontualidade.

Tem outra já acima dita da evocação de N. S. da Piedade da Ponte do Almonda da administração do Prior por ser onde antigamente foi freguesia e imagem milagrosíssima onde concorrem muitas pessoas de romagem especialmente de Verão, e sábados; [3] tem ermitão da apresentação do Prior; foi naquele tempo Paróquia além da Azinhaga e Pombal, da vila da Golegã e Casével como consta dos livros desta igreja; fica distante deste lugar meio quarto de légua.

Tem uma larga e excelente campina, de onde se colhe larguíssimo trigo, cevada, feijões de ambas as qualidades, milhos, grãos, e excelentes balancias [melancias] e molões [melões], tudo isto entre o rio Tejo, e Almonda, e da parte do norte deste rio é terra [?] que [1002] tem de comprido uma légua e meia de largo todo este território cheio de Olival tão fértil que todos os anos produz larguíssimo azeite, muito centeio trigo, favas, ervilhas, chichos [?], e cevadas, no fim das quais terras, tem dilatadas vinhas as mais abundantes deste Reino, cujas terras chamam espargais: nas quais terras e nas sobreditas campinas se criam inumeráveis gados, como são bois, vacas, cavalos, éguas, ovelhas, cabras, e porcos, na vizinhança das quais, e dentro da mesma freguesia tem excelentes montados para este género.

Tem dois juízes Vintaneiros sujeitos a justiça de Santarém, e são absolutos juízes das sisas deste cabeção, que nele são encabeçados além dos mordomos desta terra dos do Pombal, e Reguengo.

Do rio Almonda dirá do seu nascimento o Pároco do Pedrogão em cuja freguesia nasce, no lugar chamado Almonda donde toma seu nome, nascendo e correndo com violência até à vila de Torres nove [Novas], passada a qual desmaia a sua corrente, entrando na dita campina tão brando no curso que pouco se observa o seu movimento, levando as suas margens encostadas ela parte do [1003] sul encostadas às casas desta freguesia, tendo o seu ocaso no grande rio Tejo distante desta terra mil passos pouco mais ou menos; e é tão brando no curso, ou corrente, que apenas o dito Tejo recebendo qualquer água mais do seu natural logo retrocede com violência inundando os ditos campos; de que resulta por serem mais baixos não se extinguir no paúl, antigamente chamado de Trava [?] e hoje do Marques [será Marquês?], que me parece está na casa do Louriçal, no qual água que com a sua podridão, e com o sobredito rio de tal sorte inficiona [de infectar] os ares nos campos de verão, que no fim dele fica quase despovoada esta freguesia, e os que escapam ficam tão opados, e obstruídos, que parecem mais defuntos, que viventes, e só os que podem ter a prevenção de no dito tempo se ausentarem para fora desta freguesia até virem novas águas e terras, é que melhor escapam de tal sorte

que se este povo, que é quase composto de pastores, que as suas soldadas pela largueza delas convida aos pobres dos lugares vizinhos a virem habitar nesta freguesia por aquele interesse não habitarem há muito tempo estaria extinto [1004]

Há nesta terra uns passos antigos, que é tradição serem mandados fazer por El Rei D. Manuel e neles dizem estar sepultados o Infante D. Luís Filipe do Infante D. Fernando de quem foi moço da sua Camera Gaspar Serrão, de quem procede a dita família dos Serrões acima dita, que hoje conserva o foro de fidalgos. 

Não teve dano algum no terramoto. Azinhaga em 3 de Abril de 1758

O P.or João Gomes H.es…

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[1] http://digitarq.arquivos.pt/details?id=4239127 (acedido em 19/11/2017)

[2] O título obtido vem por falecimento da esposa. A linhagem do Morgado é, portanto, da parte da esposa de António Manuel Nogueira. Tinha interesse saber qual o nome próprio desta senhora, de forma a pesquisar nos paroquiais os elementos genealógicos que possa interessar a um estudo sobre a presença desta família na Azinhaga.

[3] Será que esta tradição ainda permanece?